Composta.AI + FabLAB:
Solução Descentralizada de Gestão de Resíduos Orgânicos 🌳♻️💚
CONSUMO CONSCIENTEGESTÃO DE RESÍDUOSANÁLISE DE CICLO DE VIDA DOS PRODUTOSCOMPOSTAGEM
Composta.AI
12/2/20259 min ler
Composta.AI: Solução Descentralizada de Gestão de Resíduos Orgânicos
Introdução
Os resíduos orgânicos urbanos representam cerca de 50% do total de resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados no Brasil. Essa fração volumosa acaba em aterros e lixões, gerando chorume, metano e vetores de doenças, além de reduzir a vida útil dos aterros.
Segundo dados oficiais, o país gerou ~77 milhões de toneladas de RSU em 2022 (≈380 kg/hab/ano), mas apenas uma pequena parcela é tratada adequadamente.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) prevê a gestão integrada dos resíduos e a implementação de coleta seletiva e compostagem, transferindo aos municípios a responsabilidade pela adequada destinação. Embora a legislação exista há mais de dez anos, mais da metade das cidades ainda não alcançou as metas de planos municipais (PMGRS)ipea.gov.br. Esse cenário demanda soluções inovadoras.
Compostagem Descentralizada e o Modelo Composta.AI
A compostagem descentralizada consiste em tratar a matéria orgânica próxima à fonte geradora (residências, comércios, praças), reduzindo necessidade de transporte e ampliando a reciclagem de nutrientes.
No modelo que propomos com a Composta.AI, implantado em laboratórios de inovação social, esse conceito é aplicado por meio de composteiras modulares de baixo custo integradas a uma plataforma digital de gestão.
A empresa Composta.AI, iniciativa cadastrada no FabLab Livre SP, oferece serviços de coleta e compostagem personalizados para pequenos e médios geradores (restaurantes, hotéis, mercados, escolas, pequenas indústrias etc.), convertendo resíduos em fertilizante orgânico e relatórios de impacto.
A proposta valoriza os catadores de material reciclável, gerando emprego e renda local, e aproveita espaços públicos (parques, praças) para fechar o ciclo: o composto produzido retorna à vegetação urbana, enriquecendo o solo. Estudos mostram que a compostagem descentralizada é economicamente viável e ambientalmente benéfica, reduzindo custos de transporte e disposição final.
Projeto-Piloto no FabLab Livre SP
O piloto de Composta.AI foi desenvolvido pelo FabLab Livre São Paulo em parceria com a Prefeitura de SP em 2023. O projeto pretende a implementação de protótipos funcionais de composteiras inteligentes, instalados no Parque Municipal Chácara do Jockey.
O Projeto consiste em módulos compactos capazes de processar resíduos de hortas e alimentos locais. A implantação incluiu sensores para monitorar temperatura e umidade, validando tecnicamente o processo de compostagem in loco. O material orgânico coletado no parque é transformado em adubo de alta qualidade utilizado na própria área verde, ao mesmo tempo em que ações de educação ambiental sensibilizam visitantes sobre gestão de resíduos. Assim, o projeto-piloto combina tecnologia, infraestrutura comunitária e experimentação social para demonstrar o modelo de compostagem descentralizada.
Dados Operacionais do Sistema Composta.AI
O sistema Composta.AI é modular. Cada composteira individual processa aproximadamente 1,7 m³ em 3 meses (≈6,8 m³/ano no total), dos quais cerca de 2,72 m³ são de matéria orgânica (≈2.720 kg/ano) e há redução de volume em torno de 40%.
Um módulo básico agrupa 20 composteiras. Este módulo tem capacidade de tratar aproximadamente 54 toneladas de resíduos orgânicos por ano, atendendo cerca de 300 habitantes (considerando 0,5 kg de resíduo orgânico por dia por pessoa, ou ~180 kg/ano/pessoa). Para essa população, o módulo ocupa cerca de 45 m² (20 composteiras).
Exemplo Escala 1: Em um parque-modelo, utilizam-se 10 módulos (200 composteiras) para atender ~3.000 moradores, ocupando ~450 m² (10×45 m²).
Exemplo Escala 2 – Vila Andrade (170 mil hab.): Escalar o sistema para uma subprefeitura de ~170.000 habitantes exigiria cerca de 500 módulos (≈10.000 composteiras). Isso consumiria ~22.500 m² de área total (500×45 m²). Nesse caso, a rede de composteiras coletaria anualmente as toneladas orgânicas geradas e produziria compostagem suficiente para uso urbano.
Em resumo, cada módulo Composta.AI processa ~6,8 m³/ano (≈54 t/ano no total do módulo) e atende 300. Esse arranjo compacto demonstra como a gestão local de resíduos pode ser dimensionada conforme a população servida e a área disponível.
Viabilidade Econômica e Projeções de Escala
Os custos estimados para implantação incluem aquisição das composteiras e equipamentos. Em programas similares de compostagem comunitária observou-se CAPEX de ~R$294 por tonelada/ano de capacidade e OPEX operacional de ~R$309/t.
Tais valores são inferiores aos custos de disposição em aterros – por exemplo, em São Paulo o custo de envio a aterro sanitário gira em torno de R$9–10 mil/ton, sem contar transporte e taxas. O modelo de negócios Composta.AI prevê receitas via mensalidades ou tarifas contratuais pagas pelos geradores de resíduos, além da potencial venda ou doação do fertilizante produzido.
Em estudos de viabilidade preliminares, a receita projetada (por exemplo, no cenário de Vila Andrade) seria suficiente para cobrir custos operacionais, gerando um ROI sustentável. Complementarmente, há receitas adicionais possíveis com a comercialização ou doação do composto orgânico para agricultores urbanos e hortas comunitárias, fortalecendo a economia circular. Em suma, estimativas indicam que, ao evitar despesas com aterro e ao produzir adubo valorizado, o sistema pode se pagar e ainda gerar ganhos para a administração pública.
Vantagens Ambientais, Sociais e Econômicas
Ambientais – A compostagem descentralizada transforma resíduos poluentes em recursos nutritivos. Em vez de liberar metano nos aterros, o material orgânico vira adubo, reciclando nutrientes e melhorando a saúde do solo. Em projetos-piloto, observou-se redução de emissões de GEE (por exemplo, ~374 t de CH₄ e 11.653 t CO₂eq evitadas) e produção de cerca de 1.300 t de composto por ano. Além disso, reduz-se o impacto de lixões (menos contaminação de água e solo) e promove-se a proteção contra erosão pelos compostos orgânicos.
Sociais – A iniciativa valoriza catadores de recicláveis e comunidades locais. Ao empregar mão de obra local na coleta e manutenção dos módulos, gera-se mais empregos do que em um aterro convencional. Em São Paulo, o programa de compostagem comunitária criou 6 vezes mais empregos diretos do que a disposição dos mesmos resíduos em aterro. A educação ambiental é outro benefício: o projeto-piloto em parque mostrou-se como aula prática para visitantes, estimulando práticas sustentáveis e vínculos comunitários ao envolver moradores em hortas urbanas e oficinas de compostagem.
Econômicas – Economias significativas são alcançadas. Exemplo local: o programa municipal Feiras e Jardins Sustentáveis (São Paulo) alcançou R$4,4 milhões de economia de 2015 a 2023 apenas ao reciclar orgânicos de feiras. Cada tonelada de resíduo tratada evita custos de coleta e aterro.
A produção de adubo também reduz a necessidade de fertilizantes químicos. Além disso, pode gerar receitas (venda de compostos) e reduzir encargos de gestão pública com resíduos. Em resumo, Composta.AI promove cadeia de valor: diminui custos municipais, cria renda para trabalhadores e fortalece a economia circular local.
Aplicações e Políticas Públicas
O modelo descentralizado pode ser replicado em diversos contextos urbanos. Em espaços públicos (praças, parques, escolas), módulos de compostagem podem tratar resíduos de árvores, podas e resíduos alimentares, devolvendo o composto ao próprio local verde.
No setor privado (hotéis, restaurantes, mercados, eventos), empresas geradoras de resíduos podem contratar o serviço Composta.AI e reduzir seu impacto ambiental. Em ambos os casos, o composto produzido pode ser usado em projetos de paisagismo, hortas comunitárias ou doado a agricultores urbanos, fechando o ciclo.
No âmbito das políticas públicas, a iniciativa complementa diretrizes da PNRS e planos municipais de resíduos: incentiva a logística reversa dos orgânicos e atende metas de coleta seletiva. Alguns exemplos:
🏙️ 1. Plano Diretor Estratégico – PDE 2014–2029 (Revisto em 2023)
O Plano Diretor Estratégico (PDE) da Cidade de São Paulo, SP, estabelece diretrizes para o desenvolvimento urbano sustentável e introduz, em sua revisão de 2023, um ponto crítico: a necessidade de manejo diferenciado dos resíduos orgânicos. O PDE determina como meta incentivar a implantação de pátios de compostagem públicos ou privados dentro do território das subprefeituras atuais e futuras (Lei nº 17.975/2023).
Essa diretriz está totalmente alinhada com a proposta da Composta.AI:
centros descentralizados de pequeno porte;
integração com espaços públicos (parques, praças, escolas);
aproveitamento de infraestrutura local para reduzir custos logísticos.
O PDE, portanto, cria o ambiente regulatório ideal para a expansão de unidades modulares de compostagem.
🌳 2. Plano Municipal de Arborização Urbana – 2021–2040
O plano reconhece a relação direta entre gestão de resíduos orgânicos e saúde da arborização urbana, destacando que resíduos de poda, galhos e folhas devem ser corretamente destinados e aproveitados por meio da compostagem.
Aqui, o sistema Composta.AI se integra perfeitamente, pois:
permite compostar resíduos verdes gerados pelos próprios parques;
produz composto para manutenção e enriquecimento da cobertura vegetal;
fecha o ciclo ecológico dentro do próprio território.
Essa relação fortalece a visão de infraestrutura verde resiliente.
🌍 3. Plano de Ação Climática – PlanClima SP 2020–2050
O PlanClima, instituído pelo Decreto nº 59.439/2020, posiciona a gestão de resíduos como eixo central da mitigação climática, destacando:
crescimento das emissões de aterros sanitários;
baixa diversificação tecnológica;
necessidade de expandir compostagem, biodigestão e reciclagem;
integração da “lente climática” às políticas setoriais;
importância da economia circular para alcançar neutralidade climática até 2050
A Composta.AI contribui diretamente ao:
evitar emissões de metano provenientes de disposição em aterros;
gerar infraestrutura de baixo carbono descentralizada;
criar dados rastreáveis que podem ser integrados ao monitoramento climático municipal.
🚰 4. Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB 2019–2029
O PMSB estabelece diretrizes para os quatro componentes do saneamento: água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos.
No eixo de resíduos, identifica desafios como:
pontos viciados;
falta de monitoramento sistematizado;
saturação dos aterros;
lentos avanços em reciclagem e compostagem.
Entre as frentes recomendadas pelo PMSB estão:
fortalecimento dos programas de coleta seletiva e compostagem;
criação de novos mecanismos de monitoramento;
incentivo ao aproveitamento energético.
A infraestrutura da Composta.AI — com rastreabilidade digital e métricas automáticas — é exatamente o tipo de solução que o PMSB prevê como necessária para modernizar a gestão de resíduos.
📚 5. Plano Municipal de Educação Ambiental – PMEA 2024–2034
O PMEA reforça que a educação ambiental é ferramenta essencial para:
ampliar a reciclagem;
reduzir a geração de resíduos;
promover práticas responsáveis, como a compostagem;
envolver a sociedade civil na coleta seletiva e em programas de valorização de resíduos.
O projeto Composta.AI no FabLab tem forte convergência com o PMEA, pois:
realiza atividades educativas no Parque Chácara do Jockey;
envolve comunidade, visitantes e escolas em ações práticas;
permite vivências diretas de transformação dos resíduos.
A compostagem descentralizada é, portanto, um instrumento pedagógico poderoso dentro das diretrizes municipais.
Além disso, o projeto-alvo dialoga com iniciativas de mapeamento urbano (como GeoReDUS, plataforma de dados abertos para apoiar políticas sustentáveis) e com a Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS), que promove ações locais integradas. Protocolos como ReDUS/GeoReDUS podem apoiar a escolha dos locais ideais para instalação das composteiras, integrando dados socioambientais na decisão.
Ademais, experiências como o Plano São Paulo Feiras e Jardins demonstram como políticas municipais podem escalar a compostagem descentralizada e inspirar novas regulamentações no Brasil. Em conjunto, essas ferramentas normativas e dados abertos dão suporte para replicar o modelo Composta.AI em outras cidades, alinhando-o à legislação brasileira (Lei 12.305/2010) e aos objetivos de cidades sustentáveis.
A partir das diretrizes reunidas, fica claro que a cidade de São Paulo já possui um arcabouço regulatório robusto que incentiva e legitima a compostagem descentralizada. A Composta.AI se alinha de forma natural a esses marcos, funcionando como solução técnica, social e climática, pronta para ser replicada em qualquer território do município — e, por extensão, do país.
Referências
BRASIL. Lei n. 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da União, Brasília, 2010.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Gestão de Resíduos Orgânicos. Brasília, s.d. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/gest%C3%A3o-de-res%C3%ADduos-org%C3%A2nicos.html. Acesso em: dez. 2024antigo.mma.gov.brantigo.mma.gov.br.
OLIVEIRA DE SIQUEIRA, T. M.; ASSAD, M. L. R. C. Compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos no Estado de São Paulo (Brasil). Ambiente & Sociedade, v. 18, n. 4, p. 243–264, 2015scielo.brscielo.br.
SZIGETHY, L.; ANTENOR, S. Resíduos sólidos urbanos no Brasil: desafios tecnológicos, políticos e econômicos. Brasília: Ipea, 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/217-residuos-solidos-urbanos-no-brasil-desafios-tecnologicos-politicos-e-economicos. Acesso em: jan. 2025ipea.gov.br.
INSTITUTO PÓLIS. Programa Feiras e Jardins Sustentáveis – São Paulo/SP. São Paulo, 2024. Disponível em: https://brasilcompostacultiva.org.br/sao-paulo-sp/. Acesso em: dez. 2024brasilcompostacultiva.org.br.
PREFEITURA DE SÃO PAULO. Fab Lab Livre SP – Projeto Composta.AI (Compostagem de Resíduos Orgânicos). São Paulo, 2023. Disponível em: https://fablablivresp.prefeitura.sp.gov.br/projetos/arquitetura-e-urbanismo/compostaai. Acesso em: dez. 2024fablablivresp.prefeitura.sp.gov.brfablablivresp.prefeitura.sp.gov.br.
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